Anel de perigos rodoviários
Fontes: Dnit, PRE
Celso Martins e Jaqueline da Mata – Jornal Hoje em Dia
Repórteres
Publicação: 09/05/2008
Construído na década de 50 para desafogar o trânsito no Centro de Belo Horizonte, o Anel Rodoviário, por onde passam cerca de 100 mil veículos por dia, está longe de cumprir seu papel. Além dos congestionamentos gigantes, a via está se tornando cada vez mais perigosa. De janeiro a maio deste ano já são sete mortos, 278 feridos e 750 acidentes no local. E as medidas para tentar conter esses índices não funcionam.
Os dez radares fixos, equipamentos batizados de lombada eletrônica, contratados pelo Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), desativados desde setembro do ano passado, não têm prazo para serem reativados. Para começar a autuar os veículos infratores, a direção do departamento precisa concluir uma licitação. E não há previsão para resolver o problema. Além disso, segundo o subcomandante da Polícia Militar Rodoviária, capitão Agnaldo Lima de Barros, os quatro equipamentos móveis comprados pelo Governo de Minas para fiscalizar as rodovias estaduais na Região Metropolitana de Belo Horizonte não poderão ser usados no Anel Rodoviário. “Isto porque esta competência é do Governo Federal”, informa.
Com isso, os riscos só vão crescendo. No ano passado foram 29 mortes, 26,1% a mais em relação a 2006. O número de feridos neste mesmo período teve acréscimo de 17,4%, passando de 810 em 2006 para 951 no ano passado. A Polícia Militar Rodoviária, responsável pela fiscalização do Anel Rodoviário, aponta o excesso de velocidade uma das principais causas das ocorrências de trânsito.
Via com formado em “C”
Com 26,5 quilômetros de extensão, a via, em vez de ser no formato de anel, como o nome indicava, tem o traçado em “C”. Segundo o perito Paulo Ademar de Souza Filho, especialista em direção defensiva, isto contribui para os congestionamentos.
O capitão Agnaldo Lima de Barros afirma que das sete mortes este ano no Anel Rodoviário cinco foram por atropelamento. Pelo menos quatro pessoas morreram atingidas por veículos nas proximidades das passarelas. Ou seja, pedestres que se arriscam no meio do trânsito intenso. Uma das vítimas, um homem de 72 anos, foi atingido por um carro quando atravessava a pista debaixo da passarela próximo ao Bairro Dom Bosco, Noroeste de Belo Horizonte.
Os congestionamentos são a segunda causa de acidentes apontadas pelo capitão Agnaldo Lima. “As retenções ocorrem nas proximidades do viadutos que sempre têm apenas duas faixas em cada sentido, uma a menos que a maioria das pistas do Anel. Os acidentes mais graves são provocados por carretas e caminhões pesados que não conseguem frear quando as rodas estão quentes, o que acaba provocando batidas nos veículos que estão parados nos congestionamentos”, diz o capital.
O perito Paulo Ademar defende a instalação de quebra-molas para reduzir o número de mortes no Anel Rodoviário. Apesar que a medida é antipatizada pela maioria dos motoristas, o especialista afirma que seria uma única alternativa de reduzir os acidentes. “O Anel tem característica de rodovia, mas está localizado em via urbana, o que o torna ainda mais perigoso. Os quebra-molas forçariam os motoristas de caminhões a trafegar em baixa velocidade.” De acordo com o perito, apesar de a velocidade ser no máximo 70 quilômetros por hora, a maioria dos veículos trafega acima dos 100.
Paulo Ademar aponta a construção do Rodoanel, que desviaria o trânsito pesado de Belo Horizonte, como solução definitiva para acabar com os congestionamentos e diminuir as mortes. O projeto do Dnit está em fase de licitação para o projeto executivo, o que deve ser concluído somente no início de 2009. O projeto está orçado em R$ 700 milhões para construção de um traçado de 67,5 quilômetros.
Quem trafega pelo Anel Rodoviário deve redobrar a atenção. No km 21, nas proximidades do Bairro Santa Cruz, Região Nordeste de Belo Horizonte, no sentido Vitória (ES), a terceira faixa à direita da pista começou a ser interditada ontem. Isso em função das obras da Linha Verde, via que ligará a capital ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins.
De acordo com o engenheiro de segurança da Camargo Côrrea, Eduardo Tondato, serão feitas obras de arte no asfalto e de encabeçamento dos três viadutos na intercessão com a Avenida Cristiano Machado. “Vamos fazer o rebaixamento da marginal para o encabeçamento do novo viaduto. Previsão de obra é para quatro meses”, disse o engenheiro. Ele é um dos que não acreditam que a interdição terá grande impacto no trânsito. “Das três faixas somente uma será interditada”, destaca o engenheiro.
O caminhoneiro Rogério Gonçalves Tomáz, 42 anos, trafega no Anel Rodoviário de Belo Horizonte há pelo menos 18 anos. “Desafoga o trânsito na cidade e afoga aqui. O Anel é perigosíssimo. Se eu pudesse passaria por outra via”, desabafa o caminhoneiro. Mesma avaliação tem o motorista Davidson Gomes Freitas, 28 anos. Em dias de folga, prefere fazer um caminho mais longo a ter que passar pelo Anel Rodoviário. “Quando tem um acidente, então, o trânsito pára. O Anel Rodoviário não suporta a grande quantidade de veículos que aqui transitam diariamente”, disse Freitas.
ANEL RODOVIÁRIO DE BELO HORIZONTE
Raio X da via construída com o objetivo de desafogar o trânsito do Centro da capital
Data de construção: início da década de 50.
Extensão: 26,7 quilômetros.
Início: na união das rodovias BR-262 e BR-381, na interseção dos bairros Nazaré e Goiânia.
Final: no encontro da BR-040 com a BR-356, no Bairro Olhos d’Águas.
Ligações: cruza algumas das principais vias da cidade: Linha Verde/Cristiano Machado, Antônio Carlos, Catalão, Pedro II, Via Expressa e Avenida Amazonas.
Média de veículos que circulam por dia: 100 mil.
Velocidade média permitida: 70 quilômetros por hora.
Fiscalização: apesar de ser de competência do Governo federal, o Anel Rodoviário é fiscalizado pela Polícia Militar Rodoviária, por meio de um convênio com a Polícia Rodoviária Federal.
Radares: os dez radares fixos contratados pelo Dnit estão desativados desde setembro do ano passado. O contrato com a empresa que fornece os equipamentos está vencido e uma nova licitação está em andamento. Não há previsão de compra de radares móveis para fiscalizar o trânsito.
SITE: http://abetran.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1378&Itemid=143

