TINHA MESMO QUE AUMENTAR TANTO?
BY REDAÇÃO ON 28 DE DEZEMBRO DE 2012 ·CRÔNICAS
A Polícia Rodoviária Federal registrou 222 mortes nas rodovias federais em todo o país neste feriado de Natal, 38% a mais que no mesmo período do ano passado. Em 2011, foram contabilizados 161 mortos em acidentes. Um balanço parcial divulgado nesta quarta-feira (26) informa que 1.942 pessoas ficaram feridas em 3.027 acidentes em todo o país, entre a meia-noite de sexta-feira (21) e a meia-noite de terça-feira (25). Apesar do aumento no número de mortes, a quantidade total de acidentes diminuiu, assim como o número de feridos.
O levantamento revela outros detalhes: as ultrapassagens mal sucedidas foram responsáveis por ao menos 30% dos acidentes fatais durante o feriado de Natal; a PRF atendeu sete acidentes com quatro ou mais vítimas fatais (totalizando 36 mortes) e desses acidentes seis foram colisões frontais, cinco delas envolvendo caminhões. Parece que o acidente mais graveaconteceu no município de Paramirim, na BR-316, em Pernambuco. Um caminhão carregado com placas de gesso bateu de frente em uma van com 14 ocupantes. Onze pessoas morreram no local e, de acordo com a polícia, o motorista do caminhão estava embriagado.
Dados assim já chegam a nós, infelizmente, sem tanto assombro. Nos acostumamos às chamadas jornalísticas que se seguem ao final de cada feriado prologado, contando mortos e distribuindo feridos pelos hospitais. O que poderia ser feito para diminuir o número de acidentes de trânsito nas estradas brasileiras? O que você poderia fazer?
Temos um discurso pronto a esse respeito, que em geral aponta a imprudência como fator definitivo na ocorrência dessas tragédias. Motoristas distraídos ou apressados fazem bobagens no trânsito para chegar mais rápido, ou para pegar o caminho mais fácil, acabando por agir com imprudência e causar acidentes. Chegaram a espalhar uma porcentagem (falsa) de acidentes causados estritamente por falha humana: 90%. Como, porém, é possível saber se um motorista invadiu a contramão por imprudência ou por causa de um enorme buraco na pista?
Esse dado de 90% não é real e quem trabalha com segurança rodoviária sabe que a falha humana está em torno de 65%. Os 35% restantes seriam problemas do que se chama de “corpo estradal”, ou seja, que inclui vários fatores: trechos que acumulam água e favorecem a aquaplanagem, trechos mal sinalizados, enfim, problemas que poderiam ser solucionados com trabalhos de engenharia. Em recente entrevista, o engenheiro Eduardo Rezende Tondato, especialista em segurança de estradas, deu sua opinião: “Existem vários dispositivos de contenção viária, que podem reconduzir o veículo para a pista. Acho que temos que adotar a filosofia da rodovia que perdoa. Ou seja, se o motorista cometer um erro, não precisa ser punido com a pena de morte. Temos que usar a engenharia de segurança viária a favor do usuário”.
Se a porcentagem correta estaria em torno de 65%, isso significa que temos condutores mal-intencionados e apressados em tão grande proporção? Não exatamente. A falta de escrúpulos e de respeito à vida dividem espaço com as estradas ruins e com uma real deficiência na preparação dos motoristas em auto-escolas. Mais uma vez, é a educação brasileira que está derrapando na pista. Você realmenete se sente preparado para enfrentar o trânsito na sua cidade e nas estradas federais após passar no exame de direção? Aquelas aulas práticas em ruas vazias e retas, as aulas “noturnas” ministradas às 18h, com o sol a pino, te deixam seguro para conduzir pela madrugada. Duvido muito. Não fosse um ensino deficitário e cheio de irregularidades, como se explicariam as inúmeras escolas de direção para pessoas que já possuem a CNH mas têm medo de dirigir? Elas crescem a um ritmo absurdo, e se por um lado atendem a pessoas queapresentam real “fobia” de trânsito, na maioria das vezes acabam fazendo o papel de “tapa-buraco” das auto-escolas tradicionais.
Além de estarmos despreparados, contamos também com estradas cheias de remendos, que precisam urgentemente de revitalização completa. Um dos maiores problemas para o asfalto das rodovias brasileiras é o excesso de peso da imensa quantidade de caminhões que trafegam diariamente por elas. Sim, nossa economia se sustenta sobre as cargas que esses caminhões transportam, mas o excedente de peso (propiciado pelos empresários do ramo, que assim fazem menos viagens e lucram mais) é uma questão que exige fiscalização mais rígida. Ele é o vilão do asfalto, juntamente com o descaso governamental. O descaso se torna paradoxo quando pensamos na forte dependência que temos da nossa malha rodoviária.
Não é novidade que as estradas brasileiras estão sendo sucateadas desde a década de 1980. Somentes nos últimos cinco anos é que as autoridades passaram a dar atenção maior às estradas, ou seja, a se preocupar em fazer novas estradas e em tentar manter as que já existem. O caminho da restauração completa é onde devemos chegar: remendos só duram até a chuva seguinte, e com certeza não são a melhor opção em termos de segurança e conforto. Falta preparação, prudência, fiscalização e, não custa continuar repetindo, manutenção efetiva da parte do Governo. Neste caso, duas opções: ou assume-se a malha rodoviária como um pilar fundamental da economia brasileira (e cuida-se dele como tal), ou admite-se que o Governo não consegue cuidar de nossas estradas e privatizam-se os trechos mais perigosos. Não custa mesmo repetir: é tudo uma questão de estabelecer a prioridade.
Elisa Taborda / andremansur.com
Com informações do site vrum.com.br e jornal Estado de Minas
